Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]
O Correio da Manhã é o melhor jornal de Portugal. Porque foi o CM que fez de mim a menina de seis anos que soube muito antes do moço pimpão e saltitão, que fez pop-up do Prós e Contras para o Governo, o que era o verdadeiro empreendedorismo.
O meu pai herdou do seu a qualidade de empilhar. Empilhava loiça suja, empilhava roupa no chão e, claro, empilhava também as revistas que vinham bem aconchegadas no meio do jornal. As páginas centrais dessas bíblias do País eram preenchidas por fotografias de literatura erótica para papás, uma versão muito antiga do que agora degenerou em tons e sombras do que não lembra ao diabo; e, entendamo-nos, só o que lembra ao diabo é efectivamente bom.
Ao contrário da avó, que deitava tudo no contentor, eu fazia uma análise crítica do potencial da tralha empilhada. No caso das revistas, esmorecidos outros interesses, pareceu-me evidente o modelo de negócio a aplicar. Rasguei cuidadosamente as páginas, tendo especial cuidado em não aumentar os furos dos agrafos que marcavam as coxas das raparigas, e cataloguei o material. Havia as menos despidas e de lisura pouco fogosa; e as de cueca a rasgar os glúteos e com maminhas balão. Porque a justiça sempre me guiou, marquei as primeiras a 5 escudos e as segundas a 10.
A escola primária nunca tinha conhecido tanto fervor no intervalo das 10h30. Entre um pacote de leite escolar e um papo-seco com manteiga, os homens de amanhã acorreram às traseiras da cantina e fizeram de mim a menina mais rica da aldeia. Três foram fiados, sobraram dois.
À noite, quando a mãe abriu a mochila cor-de-rosa, o meu sonho acabou. Palmadas e uma ordem para devolução do material, que viria a ser apreendido pela censura maternal. No dia seguinte, os meus companheiros foram intimados a pôr fim àquele Carnaval. Mas, por usufruto, exigi ficar com 25 % do valor total.